25/02/2011

Sobre a Sinagoga e a Igreja


O Cristão e o Hebreu são bastante diferentes do Heleno. O Hebreu passa por três fases na sua longa história. A primeira diz respeito ao tempo antes da revelação da Lei a Moisés. Antes de Deus se-lhe revelar, o Hebreu não tem templo, não tem lugar de culto. É apenas a partir do momento em que precisa de descobrir um espaço onde se possa preservar a memória da revelação histórica do Deus eterno é que ele passa a ter um templo, que equivale ao témenos grego: assim é o Tabernáculo, a morada ambulatória do senhor do deserto; e mesmo a sua conversão no Templo em Jerusalém não altera a sua natureza, é a fixação num espaço do cilindro de acesso do céu e da terra: a fixação da presença de Deus. Com a destruição do Templo inicia-se a terceira, e actual fase (pois nem o Estado de Israel ousará construir o Terceiro Templo): a era da sinagoga. Sinagoga é uma palavra grega que significa reunião, e não é um templo. Existiam sinagogas antes da destruição do templo, mas eram unicamente lugares de leitura da Torah e de reunião pública: com a diáspora e a impossibilidade de aceder ao templo, os ritos são transferidos para aquele que se torna o lugar de reunião da comunidade: mas o foco está na comunidade, não na presença imanente do divino. O problema põe-se do acesso à transcendência, visto que o modo de comunicar com Deus sancionado pela Torah, a saber rituais e sacrifícios no Templo em Jerusalém, se torna impossível: o espaço físico é desenraizado, e a resposta é dupla: o estudo da Torah, tarefa santa, e o cumprir da Lei e do ritual de todos os dias, que honra o Senhor e cuida do mundo.

É essencialmente a resposta cristã. A terceira pessoa da Trindade, o Spírito Sancto, oferece-se ao Cristão para que ele não necessite de lugar — assim sendo, o momento essencial da theologia cristã é o Pentecostes: (Mateus 18:20); ou ainda, a Eucaristia: quando o espaço físico é substituido por um espaço temporal: o momento da memória é simultaneamente o momento da presença do deus-vivo na reunião dos fiéis; ou ainda, a mýstica: a introspecção pessoal, sem lugar no mundo, sem área alguma ocupar nem profundidade espacial (não é de esquecer que, muito embora historicamente o Livro de Esplendor da Qaballa, o Zohar, só tenha sido escrito no século XII, a tradição tenta perseguir o seu segredo credivelmente apenas até ao momento da destruição do Templo: antes de então não havia necessidade de Mýstica). Tudo isto entendemos pelo nome do lugar de culto: igreja, do grego ekklesia, assembleia. Tal como a sinagoga hebraica, a ekklesia define-se não pelo seu espaço mas por quem lá se reune: e Deus não lá reside (a igreja não é um naos). Assim, quando em algumas igrejas vemos Mateus 21:13 citado (ou, mais comummente, apenas a primeira metade do versículo), notamos o esquecimento de que tal dito se referia ao Templo em Jerusalém: a Igreja não é a casa de Deus: a Igreja é a reunião dos seus fiéis, e o edifício pouco de sagrado tem.

Da Mesquita nada sei.

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