A melhor arte é sempre igual. A coragem que é exigida ao kosmos é a coragem da repetição. O Sol tem de ousar nunca se cansar de sempre surgir no horizonte. As galáxias têm de ousar nunca se cansar de umas as outras orbitar. As leis da phýsica têm de ousar nunca variar. A Repetição a maior coragem. Somos platónicos: a nossa melhor arte é sempre igual, igual a si mesma, igual ao kosmos. O que é pois um hino, o que é a apotheose duma symphonia? É a inesgotável auto-fundamentação da eternidade em arte. Quando acaba um hino? Um hino, uma elegia, nunca acaba, não poderia jamais acabar, não pode pois terminar: soa sempre falso: soa sempre humano demasiado humano: quem ousa dizer que o destino da Nona não seria perpetuar-se em crescentes motivações, no volume altíssimo muito para além da audição humana? acercarmo-nos do fim, ouvirmos o estrondo final, é o orgasmo humano, mas tal não faz a Natureza: Que habita o seu culminar incansável. Assim é o Louvor Absoluto: pois que faz Píndaro encerrando uma ode? a carne é fraca, e a certa altura o humano tem de pousar a caneta, descansar os ouvidos (glória a quem o recusou: Musil, Hölderlin). Mas a verdade permanece: o encerrar que nunca encerra, a que em tempos os gregos chamaram ζωή.
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