18/06/2012

manibus date lilia plenis!

Há várias maneiras de dizer em grego aquilo que em português chamamos desejo. As que saltam imediatamente à mente são ἵμερος, πόθος, ἔρως. A primeira é aquela subtil favorita da poesia lýrica, assim  como quando Sóphocles diz que "νικᾷ δ᾽ ἐναργὴς βλεφάρων ἵμερος εὐλέκτρου νύμφας". πόθος é aquele desejo que significa Odysseia. ἔρως é o amor, scilicet, erótico. Existe também ὄρεξις, o termo philosóphico por excelência que sói  traduzir o nosso entendimento neutralizado de "propensão", tal como aparece às mãos cheias em Aristóteles e famosamente no início da Metaphysica. Visto porém derivar do verbo ὀρέγω, que apesar de acarretar toda a carga conceptual, a verdade é que significa antes de tudo o mais, estendo as mãos para, como acontece num reencontro. Acontece que nos faz também pensar naquele desejo que Casella sente para com o seu amigo Dante no Purgatorio, quando o tenta por três vezes abraçar mas sem sucesso, após qual fracasso a sua alma sorri pois sabe que a sua pena terá fim e que um dia estarão juntos, mas pode também fazer lembrar a cena da Aeneida quando Aeneas tenta também alcançar o seu pai Anquises, mas aqui o fracasso não traz júbilo mas sim aquela melancholia da qual Vergílio é il duca mio. O estender das mãos para a distância é também aquele desejo que nos arrebata em sonhos, como os cavalos de Álkman.


    Io vidi una di lor trarresi avante
per abbracciarmi con sì grande affetto,
che mosse me a far lo somigliante.
     Ohi ombre vane, fuor che ne l'aspetto!
tre volte dietro a lei le mani avvinsi,
e tante mi tornai con esse al petto.
     Di maraviglia, credo, mi dipinsi;
per che l'ombra sorrise e si ritrasse,
e io, seguendo lei, oltre mi pinsi.

Dante. Comedìa. Purgatorio II. 76-84


ille autem: 'tua me, genitor, tua tristis imago
saepius occurrens haec limina tendere adegit;
stant sale Tyrrheno classes. da jungere dextram,
da, genitor, teque amplexu ne subtrahe nostro.'
sic memorans largo fletu simul ora rigabat.
ter conatus ibi collo dare bracchia circum;
ter frustra comprensa manus effugit imago,
par levibus ventis volucrique simillima somno.

Vergílio. Aeneida. VI 695-702

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