20/06/2012

Angelo Poliziano

alguém lhe escreveu
no seu túmulo aqui
jaz alguém que foi mestre
a escrever nas três divinas
línguas da Europa
e que quis resurgir a Athenas de Péricles
na Florenza do seu Magnífico Mas
foi realmente por ele que eu vim?
o cinzel agrava
a morte, se o Policiano
soubesse isso não se teria apaixonado
nem eu como ele
pelo mesmo jovem
que não nos ama que olha
alheio de nós
para Platão para Plotino
para aqueles nomes que nos fazem a nós
amá-lo a ele
a sua saliva de prata
a sua memória de deus
que não se lembrará de nós
e em suma sei o que é
meu amigo meu rival
ter amado e amar para além da morte
não o seu rosto ou os longos cabelos
não o seu nome belo de murmurar de manhã
mas aquela tradição de fantasia
ali está Pico está nu e sussura
e esqueceu-se de nós cobriu-se
de sabedoria enterrou-se
nas sombras e antes do tempo
mandaste-lhe cartas
daquelas que trazem
a morte a quem as envia
e nelas punhas os poemas
que ele escreveu aqueles poemas
que tu lias
todos os dias
em vulgar e em latim
discutias com ele
com as teses dele
absurdas
e quando morreste
foste enterrado aos pés dele
e como em vida
deixaste que os seus cabelos compridos te tapassem
o rosto e a luz do sol

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