Tive o prazer de adstar. A peça é como as melhores das peças gregas: imóvel porque congelada na sua violência, suspensa no fio da lâmina que há-de cortar o baraço de cada uma das mulheres que chegadas às costas de Argos imploram ao rei e senhor desta terra a salvação. A liturgia da súplica junto dos Gregos é conhecida, mas com estas estrangeiras nem a concessão e a graça que a cidade lhes concede estarão garantias. Pois logo estão outros para chegar, os Egípcios, os caçadores, os raptores que desde o início ensombram as promessas de Zeus, desse outro sol da Grécia com a sombra das suas velas horizontais.
Toda a espera é assim, assim é também todo o refúgio. Espera-se o deus como um suplicante, indefeso, vulnerável, mas solícito não para com ele mas para com o seu inimigo; sabendo-se porém à partida que mesmo que nos assegurem que estaremos ao abrigo da sua graça mortal, que a segurança que o rei nos reserva fida não é. O deus está no nosso encalço para nos amar, para nos desposar, ele é o deus que vem, e ele é o perseguidor que vem, ele é o destruidor. A ocasião sacral que casa a πίστις com o δεῖμος: queremos fugir, escapar-lhe, desejamos o refúgio do seu amor, mas ele deseja-nos também e temo, minha irmã minha querida irmã, que mais potente seja que os nossos altares.
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