30/10/2009

Jam, dulcis amica

vem já, mesmo já, meu amor
as batidas do meu coração sou eu a chamar-te;
entra no meu quarto,
todo decorado e belo.

lá há mantas a cobrir os sofás
e toda a bela casa,
há até flores que se espalham
misturadas com ervas aromáticas.

a mesa está posta
com todo o tipo de delícias;
lá o vinho brilha e há tanto,
e há de tudo o que gostas, meu amor, há de tudo.

lá ouvem-se as doces symphonias
e as flautas tocam sempre mais e nunca param;
lá um rapaz e uma ágil rapariga
inventam belos poemas, e inventam-nos para ti.

enquanto ele toca a cítara,
ela vibra canções com a lira;
e os servos trazem os jarros
cheios de vinho doce.

um banquete assim tão grande não me agrada
prefiro a nossa conversas, os nossos surrurros,
nem me agrada toda esta abundância
tanto como as nossas parcas palavras.


por isso vem agora, tu que eu escolhi que mais que minha irmã

amo, mais que todos, mais que todas, acima de tudo
lux branca olhos leucoluzentes
que vêem e iluminam a parte da minha alma que estava ainda escura

eu fui sozinha à floresta mais funda
e descobri clareiras secretas
onde fui tantas vezes para fugir ao tumulto
e evitei a turba

a neve e o gelo já são água
as folhas e as ervas já são verdes
no céu já ouço um pássaro
queimo-me quando chego ao fundo da caverna do meu peito

amore meu, não demores
aprendamos a amar, nós que já somos mestres,
sem ti o que posso aprender? Amorte
traz a hora de desvendar a raiz do amor

porquê demorarmo-nos em horas e dias, meu amor
que não resistiremos a mais tarde recuperar em noites?
depressa apressa-te a próxima hora
é tua, é tua e não minha a demora.


Jam, dulcis amica, venito,
quam sicut cor meum diligo;
Intra in cubiculum meum,
ornamentis cunctis onustum.

Ibi sunt sedilia strata
et domus velis ornata,
Floresque in domo sparguntur
herbeque fragrantes miscentur.

Est ibi mensa apposita
universis cibis onusta:
Ibi clarum vinum abundat
et quidquid te, cara, delectat.

Ibi sonant dulces symphonie
inflantur et altius tibie;
Ibi puer et docta puella
pangunt tibi carmina bella:

Hic cum plectro citharam tangit,
illa melos cum lira pangit;
Portantque ministri pateras
pigmentatis poculis plenas.

Non me juvat tantum convivium
quantum post dulce colloquium,
Nec rerum tantarum ubertas
ut dilecta familiaritas.

Jam nunc veni, soror electa
et pre cunctis mihi dilecta,
Lux mee clara pupille
parsque maior anime mee.

Ego fui sola in silva
et dilexi loca secreta:
Frequenter effugi tumultum
et vitavi populum multum.

Iam nix glaciesque liquescit,
Folium et herba virescit,
Philomena jam cantat in alto,
Ardet amor cordis in antro.

Karissima, noli tardare;
studeamus nos nunc amare,
Sine te non potero vivere;
jam decet amorem perficere.

Quid juvat deferre, electa,
que sunt tamen post facienda?
Fac cito quod eris factura,
in me non est aliqua mora.

http://www.thelatinlibrary.com/iamdulcis.html

3 comentários:

  1. Que belíssimo poema, grande poema de amor puro

    ResponderEliminar
  2. já ouvi falar. a ideia até veio daí. também daí, vá. muito bem observado, diga-se. não sabia que tinhas um blog, quanto mais que sabias do meu blog.

    ResponderEliminar
  3. Está casi idéntico en el "Prosarium Lemovicense" (siglo X) y cabe la posibilidad de que esté dedicado a la Virgen María, con palabras de amor humano de este mundo

    ResponderEliminar