Li hoje este artigo, onde se narra a saga pela autenticidade duma das peças cuja atribuição a Shakespeare (e isto já parece o texto de ontem), The Reign of Edward III, sempre foi duvidosa. Um tal investigador utilizou um programa de captação de plágio para encontrar semelhanças com Shakespeare e Thomas Kyd, encontrando padrões, assinalando-os, atribuindo-os, etc, até chegar a uma conclusão mais-ou-menos definitiva (o artigo explica).
O curioso aqui não é necessariamente a ironia (software de plágio para descobrir Shakespeare!) como é a novidade de ter tecnologia ao serviço da literatura. Enquanto nas ciências naturais de outro modo já não seria de pensar, pelos campos de letras mais "tradicionais" a aplicação de tecnologia sempre se ficou em larga parte pela aceleração de consultas, acesso a bases de dados de textos, dicionários, etc. Uma automatização informática numa área que à partida eu admito que não associaria a nada que não fosse interpretação humana sem auxílio é bem vinda; claro que nada disto substitui um acompanhamento muitíssimo próximo do texto por parte de quem estiver a investigar-- mas isso é igualmente verdade nas ciências naturais. Citando,
You have to go on hunches - you can't just feed in all the numbers on every play and sit back," he says. "But what I'm hoping to do is bring about a marriage between human reading and machine reading. If you distrust computers, you won't advance at all; if you have just computers and know nothing about literature, you're likely to go wrong as well."
e de qualquer modo ele passou "mais de quatro décadas a estudar Shakespeare, e devotou inúmeras horas nos últimos dois anos até chegar ao seu veredicto sobre Eduardo". Tudo em conta, é uma aplicação da tecnologia como todas as outras [sic], e portanto vistas as coisas talvez não deveria ser de surpreender. Mas surpreende. Thumbs up.
PS: Estão a fazer uma coisa parecida com o Homero. Vai na volta e ainda dizem que afinal o tipo existiu.
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