03/06/2015

Cartas a Lucílio

Meu querido Lucílio.
Mais uma vez te exorto a ponderares
As virtudes da temperança
E da tranquilidade.
Meu querido Lucílio.
Há muito que te escrevo incessantemente,
Que te conto histórias de almas corajosas
Para que as imites.
Estamos ambos a fazer progresso.
Meu querido Lucílio.
Dizem-me os nossos amigos
Que nas tuas noites de festa passas por minha casa
E que cantas um pouco mais baixo
Para não me acordares.
Eu tenho de facto o sono leve,
Mas não das curas,
Mas sim da luz eléctrica que os deuses
Plantaram em mim,
No meu espírito,
E que me mantém acordado à noite
Enquanto te escrevo.
Meu querido Lucílio.
Traz-me notícias. Uns dizem
Que todas as noites cantas
Até te doerem os lábios.
Tenho dificuldade em acreditar nisso.
Tu não cantas, tu rezas.
Sempre mantiveste presente a diferença,
E seja como for não creio que saberias cantar
Sem mim que te desse o tom.
É verdade,
Não é?
Meu querido Lucílio.
Mais uma vez te peço que dirijas o corpo
Para acções justas, que conformes a alma
Aos deuses supracelestes.
Se me repito, se te procuro,
Se insisto e me vejo em ti,
É porque sei que Deus que tudo gira
Nos gira aos dois uníssono,
Se te dou uma mão Ele
Dá-me a Sua a mim,
E dá-te a outra a ti.
Meu querido Lucílio.
Procura amortecer o teu amor.
Amortece-o e aplana-o,
O amor por pessoas,
O amor pelas belas estátuas nos teus palácios,
Amortece o amor pela filosofia,
O amor pela música,
O amor pelos deuses do Amor e pelos outros.
Ama antes o próprio amortecer,
Mas mesmo esse de forma mansa e ténue.
Deixa-o secar e recolhe-o no verão seguinte,
Esguia-o até que caiba,
Como uma folha de papiro,
Entre o bico fechado de uma íbis.
Meu querido Lucílio.
Mais uma vez te exorto a ponderares
As virtudes da temperança e da resignação.

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