19/03/2015

patri

En vérité, la prompte retraite de mon père m'avait gratifié d'un "Œdipe" fort incomplet: pas de Sur-moi, d'accord, mais point d'agressivité non plus. - Sartre

chora aquilo que não me podes dar, manhã negra, altar côr-de-vinho,
dom de cegueira fria, o queimar de incenso por mãos mortas de linho,
pois ambos sabemos que tudo o que puxa pela luz do crepúsculo
é algo que arde, pele-de-leopardo em costas alheias,
herdeiros que ficam– memórias da mente, atrofias do músculo
escritos   patentes   primeiras serpentes: essas eu sei,
as imensas manobras que voltam que viram que quebram
alertam pró dia que vem, aprovas as leis às loucas auroras
que ferem os olhos, que cortam as pernas, epístulas ébrias
do rei sob o monte, do ano vindouro, do deus que não tu;
ouvi que subiste a pirâmides sérias, mandaste um oráculo
às cortinas pregadas à tua janela, com o manto do mundo
cobri-me, falei com garganta de seda, honrando o fundo do corno,
o raio primeiro das garras da carne, do canibalismo do santo enchido
de voz; ousaste pedir-me os astros da noite, suspiro de iambo, a cópia
de mim, a mão que benzeu a poucas cabeças, o marco do fim,
relíquias de trevas sagradas, dum touro caído do tempo d'antanho
que sonho e fugi; esqueceste-me ainda a panóplia infinda
das tintas da vida, o choque da queda, o cancro que seca
o choro do golpe ao luar   da dor que me afirma; ainda que tragas as velhas
promessas, o podre do sangue, a luz que até vê os trovões de terror,
animas o peito, acordas a lava, aqueces a mão que te esmaga

(2009)

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