O espírito brando é a invenção mais inútil em toda a história da língua grega. Serve para indicar que algo não está lá, problemática essa que, por muito lugar que possa ter numa discussão theo-philosóphica, não tem qualquer razão de ser no pragmatismo da legibilidade duma língua. A sua única função, a de distinguir o início da nova palavra na escrita contínua, está há milénios desactualizada. (O que nem sequer foi alguma vez função, visto que toda a gente sabe que não há nenhuma palavra grega que não comece por επι- ou por κατα-.)
Rouba tempo à escrita, basta os caracteres escritos serem um pouco mais pequeno para se confundir com o seu oposto, e dificulta a aprendizagem a níveis inaceitáveis nos primeiros passos da aprendizagem da língua (todos se queixam, e com razão, da irracionalidade dos diacríticos*), precisamente naquela fase em que mais está mais em causa a conquista do coração do novo aluno.
Por estas razões, e na mesma linha do que me levou a reformar a minha grafia do Latim, abandono a partir de hoje às trevas do Orco o espírito brando, chamado em latim lenis e em grego τὸ πνεῦμα τὸ ψιλόν. As primícias.
* Ao qual acresce o facto de toda a gente insistir na escrita do acento agudo e grave mas ninguém se preocupar com a função que este último possa ter. Na vasta maioria das leituras é mais um fóssil, tão antiquado como o genitivo em -οιο. Aí, porém, tenho a consciência tranquila: sempre me esforcei por os tentar pronunciar distintamente, e foi em não pequena parte graças ao ritmo que a variação dos dois acentos concede à frase que aprendi o pouco que sei da língua grega.
Sem comentários:
Enviar um comentário