26/06/2013

[Geoffrey Hill] Discourses: For Stanley Rosen

tradução dedicada ao Rodolfo Lopes, le meilleur platoniste

1.
Então sobre se persiste — ilumina-me —
uma dialéctica: trabalho para desejo.
Perdoa o meu reduzido vocabulário que abusa
e atura a tua paciência. Que maravilha é
o homem o philósopho no seu throno.
Que maravilha que ele é, e quão
abysmal. Preferia que não dissesses
Que eu sou ingrato a falar;  ou que há partidas
individuais de sobra no nosso soçobrado tributo.
Arbeitsknecht por adopção, nunca me ponho
a mandar bitaites, nem mesmo para abanar o edifício.
Pode ser que (por pouco provável que seja) eu seja ainda
um perito em linguagem simples e tu
não ouças bem aquilo que é dito.

2.
Não, pensa antes assim: cancela, supre, anula,
auto-referencia. A philosophia mantém
o embaraço e os custos. Eu privar-nos-ia
de mais cicatrizes não nos tivessem calhado estas ainda agora.
És magistral no desfiladeiro da tua deliberação
onde as rochas têm ângulos bizarros e a corrente
se aperta para passar:
virêmo-la com o barco de papel da auto-projecção.
A linguagem não a revelar para eleger
apenas; e descendentes ferozes cravados por bons.
Tão poucos de entre nós absolvidos quando o que escrevemos
nos dá razão numa qualquer escala de justiça.
És magistral na tua própria convicção.
E para mais um palhaço, e juíz de palhaços.

3.
Sussurros de inverno:  raízes enunciadas desafinam
uma harmónica de vidro ao meu ouvido apurado.
O alien está perto de casa, o changeling* não
é nada de especial nem esbanja; amantes
e e crianças não são por hábito inimigos.
Até mesmo aqui há algo. A nossa bem escavada
linguagem afina-nos ao encontrar —
Digo a mim mesmo
não dês cabo duma boa frase só para fazer mais sentido —
conceder os seus sítios escuros, o peso imaginado;
os círculos e os avanços extraordinários;
os meros enigmas formas e ritos de discurso;
o seu litoral desolado atravessado pela explosão da luz do sol;
o seu génio terreno no recital das esferas.


* Um changeling (de change), na mythologia irlandesa, é uma espécie de duende que foi substituido a uma criança humana. A criança é levada como escrava para as profundezas da terra e o changeling fica no lugar dela, onde normalmente é manifestamente preguiçoso e esbanjador da propriedade da família terrena. (N.T.)

Geoffrey Hill. Without Title. Penguin (2006).


1.
As to whether there persists — enlighten me —
a dialectic: labour into desire.
Forgive my small vocabulary that tries
and abides your patience. What a wonder's
man the philosopher set on his throne.
What a wonder he is, and how
abysmal. I would not have you say
I speak ungratefully; or that there's self
going spare in our unsparing tribute.
Arbeitsknecht by adoption, I never
hurl down advice, even to shake the building.
Perhaps (but not likely) I may be still
a whizz at ordinary language and you
mishear things.

2.
No, put it this way: cancel, expunge, annul,
self-reference. Philosophy keeps up
embarrassment and expense. I'd quit us
of further scars had these now been incurred.
You're magisterial in judgement's gorge
where the rocks are at all angles and the stream
huggers its way through:
let's flip with self-projection's paper boat.
Language not revealing to elect
only; and wild descenders pierced by good.
So few of us absolved when what we write
sets us to rights on some scale of justice.
You're magisterial in your own conviction.
And a clown with it, and a judge of clowns.

3.
Sussurrations of winter: voicing stems mistune
a glass harmonica at my good ear.
The alien's close to home, the changeling's not
too much a prodigy or wastrel; lovers
and children not inimical by rote.
Something here even so. Our well dug-in
language pitches us as it finds —
I tell myself
don't wreck a good phrase simply to boost sense —
granted its dark places, the fabled burden;
its loops and extraordinary progressions;
its mere conumdrums forms and rites of discourse;
its bleak littoral swept by burst of sunlight;
its earthen genius auditing the spheres.

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