I.
porque deixamos ao nascer
que os deuses nos persigam
em guerrilha e nos ambusquem?
mesmo se depois nos poupam
como caçadores com fé
na época de caça.
eles esperam, eu curvo-me
porque também eu
desejo esperar.
chegarás transformada
em vapor. consistente
na tua tua crença,
firme no teu valor. tudo
o que é sólido é mórbido,
e amaciar é amazzare.
II.
ao troçares de mim por ter medo
dos que ouvem só e nunca falam,
esqueces-te que agora chegou Julho,
a altura de ter medo que eles
desçam e subam
como nós e sejam gente.
na velha língua a fibra pesa
e faz curvar, mas onde deuses
há levanta os olhos.
29/06/2013
26/06/2013
[Geoffrey Hill] Discourses: For Stanley Rosen
tradução dedicada ao Rodolfo Lopes, le meilleur platoniste
1.
Então sobre se persiste — ilumina-me —
uma dialéctica: trabalho para desejo.
Perdoa o meu reduzido vocabulário que abusa
e atura a tua paciência. Que maravilha é
o homem o philósopho no seu throno.
Que maravilha que ele é, e quão
abysmal. Preferia que não dissesses
Que eu sou ingrato a falar; ou que há partidas
individuais de sobra no nosso soçobrado tributo.
Arbeitsknecht por adopção, nunca me ponho
a mandar bitaites, nem mesmo para abanar o edifício.
Pode ser que (por pouco provável que seja) eu seja ainda
um perito em linguagem simples e tu
não ouças bem aquilo que é dito.
2.
Não, pensa antes assim: cancela, supre, anula,
auto-referencia. A philosophia mantém
o embaraço e os custos. Eu privar-nos-ia
de mais cicatrizes não nos tivessem calhado estas ainda agora.
És magistral no desfiladeiro da tua deliberação
onde as rochas têm ângulos bizarros e a corrente
se aperta para passar:
virêmo-la com o barco de papel da auto-projecção.
A linguagem não a revelar para eleger
apenas; e descendentes ferozes cravados por bons.
Tão poucos de entre nós absolvidos quando o que escrevemos
nos dá razão numa qualquer escala de justiça.
És magistral na tua própria convicção.
E para mais um palhaço, e juíz de palhaços.
3.
Sussurros de inverno: raízes enunciadas desafinam
uma harmónica de vidro ao meu ouvido apurado.
O alien está perto de casa, o changeling* não
é nada de especial nem esbanja; amantes
e e crianças não são por hábito inimigos.
Até mesmo aqui há algo. A nossa bem escavada
linguagem afina-nos ao encontrar —
Digo a mim mesmo
não dês cabo duma boa frase só para fazer mais sentido —
conceder os seus sítios escuros, o peso imaginado;
os círculos e os avanços extraordinários;
os meros enigmas formas e ritos de discurso;
o seu litoral desolado atravessado pela explosão da luz do sol;
o seu génio terreno no recital das esferas.
* Um changeling (de change), na mythologia irlandesa, é uma espécie de duende que foi substituido a uma criança humana. A criança é levada como escrava para as profundezas da terra e o changeling fica no lugar dela, onde normalmente é manifestamente preguiçoso e esbanjador da propriedade da família terrena. (N.T.)
Geoffrey Hill. Without Title. Penguin (2006).
1.
As to whether
there persists — enlighten me —
a dialectic:
labour into desire.
Forgive my
small vocabulary that tries
and abides
your patience. What a wonder's
man the
philosopher set on his throne.
What a wonder
he is, and how
abysmal. I
would not have you say
I speak
ungratefully; or that there's self
going spare
in our unsparing tribute.
Arbeitsknecht by adoption, I never
hurl down
advice, even to shake the building.
Perhaps (but
not likely) I may be still
a whizz at
ordinary language and you
mishear
things.
2.
No, put it
this way: cancel, expunge, annul,
self-reference.
Philosophy keeps up
embarrassment
and expense. I'd quit us
of further
scars had these now been incurred.
You're
magisterial in judgement's gorge
where the
rocks are at all angles and the stream
huggers its
way through:
let's flip
with self-projection's paper boat.
Language not
revealing to elect
only; and
wild descenders pierced by good.
So few of us
absolved when what we write
sets us to
rights on some scale of justice.
You're
magisterial in your own conviction.
And a clown
with it, and a judge of clowns.
3.
Sussurrations
of winter: voicing stems mistune
a glass
harmonica at my good ear.
The alien's
close to home, the changeling's not
too much a
prodigy or wastrel; lovers
and children
not inimical by rote.
Something
here even so. Our well dug-in
language
pitches us as it finds —
I tell myself
don't wreck a
good phrase simply to boost sense —
granted its
dark places, the fabled burden;
its loops and
extraordinary progressions;
its mere
conumdrums forms and rites of discourse;
its bleak
littoral swept by burst of sunlight;
its earthen
genius auditing the spheres.
24/06/2013
o princípio das dores
Estou cada vez mais em crer que daqui por algumas décadas iremos olhar para estes anos de sofrimento como uma época áurea, em que voltámos a olhar para a política e para a sociedade com olhos críticos, e que aprendemos que a democracia é algo que, mais que receber por herança, temos que conquistar. Mas, como dizia o outro, diabos me levem se essa não vier a ser uma visão de retrospectiva paga a sangue, e se estes anos não são apenas, como dizia o outro, «o princípio das dores.»
20/06/2013
Duas Propostas Académico-Musicológicas, ou, Como Escrever Uma These Com Banda Sonora
Duas Propostas Académico-Musicológicas
Encontrar o
tipo certo de música para acompanhar a escrita duma these não é um thema que
nos tenha passado ao largo. Para benefício dos demais afligidos, assim como
para servir ao vosso humilde bloggante como breve procrastinação da escrita da
sua própria dissertação, passo a expor-vos duas das minhas extremamente
livre-pensadoras conclusões.
1) A música
terá que ser instrumental: a presença da voz conduz o raciocínio, e a presença
de duas linhas verbais (a da vossa suposta dissertação e a da música) poderá
dar origem a experiências interessantes de hyper- ou polytextualidade, mas não
estou em crer que os vossos orientadores alinhem no vosso vanguardismo
dissertativo. Isto põe imediatamente de parte tanto a ópera e o oratorium como outros géneros menores, como o Lied, o madrigal, o moteto, mas também as
symphonias corais, os poemas symphónicos (por analogia), de modo que a única
maneira que terão de escapar a isto é ouvir música em alguma língua esquisita e
incompreensível, como seja em Latim, Alemão, Provençal, Italiano, Francês, ou
Inglês. Se forem espanhóis, podem tentar ouvir canções em Português, que eles
nunca percebem nada do que nós dizemos; se forem classicistas, tentem coros
byzantinos, que eles dizem o Grego com a pronúncia moderna e vocês vão ficar
também a zero. No caso de serem amantes de Wagner, não se vá dar o caso daquela coisa do sangue
de dragão do Siegfried (o que fazia com que se entendesse a linguagem das aves)
ter algum efeito synæsthético, são também desaconselhadas todas as tentativas
de Pastorais e afins barrocas e não só, porque há sempre o perigo de começarem
a perceber o que é que está a dizer aquela passarada toda da Sexta do Beethoven
e aí é que não terminam nenhum capítulo a prazo.
2) Não poderá
ter linha melódica marcante. Uma linha melódica desconcentra porque o nosso
cérebro segue a maravilhosa musiquinha em vez de seguir a maravilhosa
concordância verbal do parágrafo que deviam estar a escrever. Nada, portanto,
de Mozart, nada de Landini, nada de Richard Strauss. Precisam de música
cerebral, portanto obviamente (tipo no livro do Hofstadter) têm que ouvir Bach.
Lembro obviamente que, segundo o ponto 1, está estritamente vedada a audição
das Cantatas, assim como das Paixões e demais
Oratoria, portanto resta saber o que poderão ouvir. Como sei que os meus
excelsos leitores são melófilos de alto gabarito, obviamente que não poderei
recomendar fugas ou cânones porque estaríamos na vigésima variação e vós, meus
caros, ainda a ouvir o tema a cada acorde. Isso põe de parte a Arte da Fuga, põe de parte a Oferenda Musical, e põe também de parte as Variações de Goldberg — antes de mais porque o
bô-bô-bô do Glenn Gould desorienta qualquer um. Talvez o melhor, para ficarmos
no barroco, seja mesmo ouvir Händel, por exemplo as suites do Water Music, a meu ver a obra mais secante do
reportório: visto que não tem qualquer interesse seja a nível melódico,
harmónico, ou contrapontista, não há perigo de vos distrair seja de que maneira
for, e armados daquela subserviência à gentleman
poderão ir treinando para o júri das provas e evitar assim que a defesa meta
água.
Espero ter
sido um bom cicerone. É-vos permitido citar o meu nome nos Agradecimentos ou então deixar aqui um
comentário no momento do Aprovado com louvor e
unanimidade.
17/06/2013
Lamento na Sculptura
Niccolò dell'Arca. Lamento pelo Christo morto (1464). @ Igreja de Santa Maria da Vida, Bolonha.
Desta obra disse o Gabrielle d'Annunzio:
Intravidi nell’ombra non so che agitazione impetuosa di dolore. Piuttosto che intravedere, mi sembrò esser percosso da un vento di dolore, da un nembo di sciagura, da uno schianto di passione selvaggia.
Das duas
figuras presentes (podem ver as restantes aqui), o mais marcante é a reacção
absolutante antitética de ambas. Sente uma mais dor do que a outra? Alguma
delas grita com mais intensidade do que a outra? A resposta parece-me um
decidido não. Ainda assim uma protege-se com
as mãos, como se tentasse evitar que algo de mal lhe acontecesse. Mas
qual é o mal que há na cena? É a morte do Christo. Ela parece estar a tentar
fazer com que a morte do Christo não lhe aconteça — não a sua própria morte,
mas a morte Dele. Porque está escrito: «Quem acredita em mim não morrerá.»
(João 11:26) Ela parece temer pela realidade da Ressurreição (João 11:25),
talvez por ter estado presente na cena anterior, e ter ouvido como Christo
duvidou de si mesmo, e que, tal como o pecador a quem o Viaticum concede
salvação, assim também o Deus, por ter duvidado de si no último instante,
tivesse perdido o acesso à sua própria salvação. E sem a salvação e a
ressurreição do Christo («as primícias dos que dormem»), também a Humanidade
está perdida. Daí a mulher se tentar defender em agonia. Se Christo está morto
também ela o está e para sempre.
A outra
figura responde a esta antes de mais geometricamente. Se alguém as colocasse
frente a frente pareceria que estariam, em vez de no desespero do luto, numa
espécie de beijo macabro: a inclinação do corpo, das mãos, e da cabeça — até
mesmo dos lábios. Inclina-se avante como quem mergulhará. As suas mãos estão
vazias, mas mais do que vazias, vulneráveis e absolutamente dessaranjadas: as
palmas viradas para a figura sem que consigamos daí captar qual a pose ou a
reacção às quais almejaria. Desconhecemos o que pretende. Consolar-se a si
mesmo consolando o morto, adivinhamos. Veio a correr, como no-lo demonstra a
túnica projectada para trás, mas ainda assim toda ela é para nós um enigma.
Porque é que as mãos estão inclinadas para trás, uma delas até mesmo de palma
para cima (na sugestão, rejeitada, duma prece), de maneira a não acompanharem de forma alguma o corpo? Alguém
disposta como ela tem um objectivo que ultrapassa de longe o luto e o
compianto. Está perfeitamente disposta para, ao chegar finalmente ao Christo e
ao curvar-se perante ele, o levantar ou pelo menos tentar levantá-lo ao seu
colo.
É Maria, Mãe
de Deus, no momento que chronologicamente antecede a Pietà, quando o
levantará e o erguerá aproximando-o dos céus. Na Antiguidade dizia-se que os
seres humanos caminham de pé para estarem mais perto dos céus. Na Ode à
Alegria, Schiller-Beethoven perguntam: Ihr stürzt nieder, Millionen? [Curvais-vos, milhões, (em busca do Criador)?] E censura-nos por essa subserviência. Em vez dela imperam: Such' ihn überm Sternenzelt! [Procurai-o no toldo das estrelas!] O acto de Maria é, à escala humana, o
reconhecimento de que o Christo é Deus. É a dramatização gestual do Credo.
Mas, no sentido em a nossa linguagem, ao contrário da de Javeh, raras (se bem
que honrosas) vezes tem carga criadora, o Credo permanece um reconhecimento
ecstático duma realidade transcendente. O gesto de Maria, pelo contrário, não é
um de reconhecimento, é, como lhe quisermos chamar, uma acção. Nesse sentido é
profundamente theológico e nada philosóphico. Quando Maria corre para o Christo
morto com os braços resolvidos a erguê-lo, é porque ele jaz no chão humilde. É
preciso que a Theotokos faça alguma coisa. Se Christo é, como lembrávamos, «as
primícias daqueles que dormem», então a Pietà é as primícias da Ressurreição.
De maneira alguma pode isto ser mais jubilante do que na conclusão de que é
preciso a acção dum ser humano para pôr em efeito a Ascensão do próprio Deus.
Dum ser humano que no sofrimento mais atroz, mais inconcebìvelmente doloroso —
aqueles olhos que, num puro milagre de esculptura, estão simultaneamente
fechados e elevados aos Céus — faz aquilo que, por pouco, por nada que seja,
levantar — como o rito suplicante da Grécia — consegue ser ainda assim o acto
mais poderoso concedido à abandonada raça dos mortais, a apotheose; consegue
tornar-se a causa dessa apotheose, não a própria, mas a de outrém — da apotheose
daquele Deus que ao ser Deus é também Deus Vivo, e que no-la deve.
O Lamento e a
Ressurreição e a Apotheose (talvez também a Jerusalém Celeste) são tudo o mesmo instante.
Isto é constante em todos os grandes Lamentos, algo que Monteverdi, outro
renascentista como Niccolò di dell'Arca, percebeu muito bem, principalmente
quando plagiou a sua composição mais pungente, o Lamento
di Arianna, o momento em que Ariadna ressoa o seu grito de dor antes da
sua própria apotheose na montanha, para o transformar com letra diferente num Lamento della Vergine.
14/06/2013
Prolog zum Teufel
travo a fala antes da primeira sílaba
mas já depois do silêncio
fica o mundo a saber que há algo a dizer
não por mim nem pelo silêncio
mas talvez pelo mundo
e isso, o meu gaguejar pálido,
exortará talvez o mundo a falar
o que faz de mim
um sofista um carniceiro
mas já depois do silêncio
fica o mundo a saber que há algo a dizer
não por mim nem pelo silêncio
mas talvez pelo mundo
e isso, o meu gaguejar pálido,
exortará talvez o mundo a falar
o que faz de mim
um sofista um carniceiro
13/06/2013
O anti-Sóphokles
Débil no vício, débil na virtude
A humanidade débil, nem na fúria
Conhece mais que a norma.
Pares e diferentes nos regemos
Por uma norma própria, e inda que dura,
Será à liberdade.
Ser livre é ser a própria imposta norma
Igual a todos, salvo no amplo e
Mando e uso de si mesmo.
Ricardo Reis. in Poesia [114]. Assírio & Alvim (2007).
A humanidade débil, nem na fúria
Conhece mais que a norma.
Pares e diferentes nos regemos
Por uma norma própria, e inda que dura,
Será à liberdade.
Ser livre é ser a própria imposta norma
Igual a todos, salvo no amplo e
Mando e uso de si mesmo.
Ricardo Reis. in Poesia [114]. Assírio & Alvim (2007).
01/06/2013
um poema do Kavafis.
Juliano em Nicomédia*
Disparates
arriscados
Os elogios
aos ideais gregos,
Os ritos e
visitas aos templos
pagãos, o
enthusiasmo pelos deuses antigos.
As conversas
constantes com Khrysânthio.
As teorias do
— de facto brilhante — philósopho Máximo.
E o resultado
é este. Gallo anda substancialmente
preocupado. Konstantino suspeita de alguma coisa.
Eh, de facto
os conselheiros não devem muito à inteligência.
Esta história
— diz Mardónio — já dura há tempo de mais.
E chegou a
altura de acabar de vez com estes rumores.
Juliano regressa como Leitor
à Igreja de
Nicomédia,
onde põe a
uso a sua voz soante para com devoção
cuidada se
devotar às Sacras Escripturas,
e o povo
espanta-se com a sua piedade christã.
C. P. Kafavis. Juliano em Nicomédia. Tradução minha.
* Juliano, dito o Apóstata, foi o último imperador pagão, ilegalizou o christianismo que antes dele tinha sido transformado na religião oficial e obrigatória do Império. A sua visão do paganismo, neo-platónica e mystérica, não durou mais que dois anos, o tempo do seu breve reinado. O poema refere-se aos anos em que, antes de se tornar imperador, Juliano finge devoção pela religião christã para escapar a possíveis tentativas de afastamento e de assassinato por parte dos anteriores imperadores. [Nota minha.]
Ἄστοχα
πράγματα καὶ κινδυνώδη.
Οἱ
ἔπαινοι γιὰ τῶν Ἑλλήνων τὰ ἰδεώδη.
Ἡ
θεουργίες κ' ἡ ἐπισκέψεις στοὺς ναοὺς
τῶν
ἐθνιῶν. Οἱ ἐνθυσιασμοὶ γιὰ τοὺς ἀρχαίους θεούς.
Μὲ
τὸν Χρυσάθιον ἡ συχνὲς συνομιλίες.
Τοῦ
φιλοσόφου — τοῦ ἄλλωστε δεινοῦ — Μαξίμου ἡ θεωρίες.
Καὶ
νὰ τὸ ἀποτέλεσμα. Ὁ Γάλλος δείχνει ἀνησυχία
μεγάλην.
Ὁ Κωνστάντιος ἔχει κάποιαν ὑποψία.
Ἂ οἱ
συμβουλεύσαντες δὲν ἦσαν διόλου συνετοί.
Παρέγινε
— λέγει ὁ Μαρδόνιος — ἡ ἱστορία αὐτή,
καὶ
πρέπει ἐξ ἅπαντος νὰ παύσει ὁ θόρυβός της. —
Ὁ
Ἰουλιανὸς πηγαίνει πάλιν ἀναγνώστης
στὴν
ἐκκλησία τῆς Νικομηδείας,
ὅπου
μεγαλοφώνως καὶ μετ' εὐλαβείας
πολλῆς
τὲς ἱερὲς Γραφὲς διαβάζει,
καὶ
τὴν χριστιανική του εὐσέβεια ὁ λαὸς θαυμάζει.
... und im Zauberkreis der Nacht [Vier letzte Lieder]
Vier letzte Lieder
Und die Seele unbewacht
will in freien Flügen schweben,
um im Zauberkreis der Nacht
tief und tausendfach zu leben.
Subscrever:
Mensagens (Atom)