A primeira parte da partilha é citada do Laudator Temporis Acti.
ὡπόλλων οὐ παντὶ φαείνεται, ἀλλ' ὅτις ἐσθλός·That emotion which inspired the hearts of men long dead must live again in our hearts. We must feel with them that awe and that rapture whose source they worshipped in their gods. We must learn to believe as they believed. Be it in the quiet of our chamber, when we read the verses of some religious poet, be it on the floor of some ancient temple which to the historical sense still preserves its sanctity, we must feel in our own lives the epiphany of the god. (Wilamowitz: 1908)
ὅς μιν ἴδηι, μέγας οὗτος· ὃς οὐκ ἴδε, λιτὸς ἐκεῖνος·
ὀψόμεθ’, ὦ Ἑκάεργε, καὶ ἐσσόμεθ’ οὔποτε λιτοί.
Apollon não a todos aparece, só a quem é bom.
Quem o viu é grande. Quem o não viu é banal.
Ver-te-emos, deus da distância, e não seremos banais.
(tradução minha de Kallimakhos, Hymnos 2.9-11)
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O grande porém herdeiro deste tipo de pensamento, excluindo naturalmente Nietzsche (cuja influência aqui é de notar), é o alemão Walter Friedrich Otto, em particular no Die Götter Griechenlands (1929) e no Theophania (1959), a meu ver a única pessoa, quiçá de sempre, a tentar respeitar o paganismo grego nos seus próprios termos: pois que os antigos seus verdadeiros cultores nunca se preocuparam em fazer algo semelhante a uma "theologia do paganismo", e quando mais tarde isso foi tentado foram tentativas de reacção e por conseguinte falhadas de por um lado o mystificar à maneira do Neo-Platonismo da Antiguidade Tardia, de o cristianizar à maneira Renascentista, ou de o contemplar apenas como tema de estudos de Anthropologia, à maneira contemporânea. O Otto (como o Wilamowitz neste passo e noutros) consegue fazê-lo porque não ousa não aceitar o que dizem os poetas e os escritores: enquanto não lidarmos com o facto (die Tatsache) de que die Götter sind da — os deuses estão aí — («Die Götter sind da. Daß wir dies als gegebene Tatsache mit den Griechen erkennen und anerkennen, is die erste Bedingung für das Verständnis ihres Glaubens und ihres Kultes.» Wilamowitz) não como metáphoras, não como ideias ou noções, ou forças ou sentimentos, mas como presenças tão reais quanto qualquer outra coisa no mundo, que Apollo cavalga o carro do céu e que Hermes nos espreita na esquina da pedra, enquando insistirmos em desistir disso o nosso entendimento da Literatura e da Religião antigas será fatalmente manco. Violências deste género levaram a que chegassem a perguntar-lhe «se ele achava que devíamos fazer sacrifícios a Zeus», de tal forma estava o seu pensamento imbutido dos deuses antigos. A resposta dele foi um não, mas um não pesado e relutante, e muito mais complexo do que uma mera rejeição, completamente justificada, do teatro de ditas práticas reconstructivistas do paganismo contemporâneo. Se tivesse eu que aventurar uma resposta para esse não, com o qual contudo a toda a linha concordo, diria que tal rejeição se prenderá ao facto de os deuses serem ἀθάνατοι e os mortais, até mesmo os Gregos antigos, serem βροτοί, e que por conseguinte termos perdido até a memória de como reagir à theophania, a ponto de a solução hellénica já não nos servir. É coisa terrível cair na mãos de deuses vivos: desengane-se quem pensa que poderá aprender antecipadamente como lidar com a sua aparição.
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