17/04/2019

Notre Dame

Será boa ideia fazer comentários pejorativos sobre as pessoas que choram pela história e cultura ocidental-europeia da Notre Dame mas ao mesmo tempo não querem saber da destruição e do extermínio de culturas e memórias não europeias, como as múltiplas culturas indígenas do Brasil?

Não sei se é boa ou se é má, porque acredito piamente que podemos cuidar de todo o património cultural (e que a ilusão de termos de escolher entre uns e outros é uma má-fé integral ao capitalismo).

Mas protestar contra as pessoas que trazem à baila essa contradição? Insurgirmo-nos contra quem traz à mente o extermínio cultural quotidiano e tenta dessa forma pôr em perspectiva a destruição, pontual e espectacular, de um edifício famoso, mesmo que ele nos seja estimado e querido?

Isso não, isso nunca: é muito suspeito que quem vem para a praça pública dizer que "este não é o momento, deixem-nos fazer o luto, que quando o luto acabar aí sim lutaremos por tudo", na semana seguinte tenha completamente esquecido que tinha jurado que estavam todas no mesmo nível de importância, e nunca mais queira saber do extermínio cultural diário, incessante.

Portanto levar a mal que as pessoas falem, em qualquer altura que seja, do extermínio cultural colonial silenciado -- sendo que uma coisa que acontece todos os dias é sempre actual, está sempre madura para que dela nos lembremos --, é má consciência, eurocentrismo, supremacia.

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