07/10/2014

Navegar até Byzâncio (1926)

Um país assim não é para velhos. Os jovens
Nos braços uns dos outros, pássaros nas árvores
— As gerações que morrem — ao seu canto,
As cascatas dos salmões, os mares apinhados de carapau,
Peixe, carne, ou ave, ao longo de todo o verão propõem
O que é gerado, que nasce, que morre.
Retidos naquela música dos sentidos todos desprezam
Monumentos do intelecto sem idade.

Um homem de idade é uma coisa desprezível,
Um casaco aos farrapos pendurado, a não ser que
A alma cante e bata palmas, e cante mais alto
Por cada farrapo nas suas vestes mortais,
E aliás a única escola de música é estudar
Os monumentos da sua própria magnificência;
E por isso eu naveguei os mares e cheguei
À santa cidade de Byzâncio.

Ó sábios no meio do santo fogo de Deus
Como nos mosaicos dourados da parede,
Saiam do fogo santo, bobina girante,
E sejam os mestres-cantores da minha alma.
Consumam o meu coração, que doente de desejo
E atado a um animal moribundo
Não sabe o que é; e reunam-me
Dentro do artifício da eternidade.

Assim que sair da natureza jamais assumirei
A forma corpórea de algo que for natural,
Antes uma forma como as que os ourives Gregos esculpem
De ouro martelado e esmalte de ouro
Para manter acordado o Imperador sonolento;
Ou com um ramo de ouro cantarei
Aos senhores e damas de Byzâncio
Do que passou, do que se passa, ou do que virá.


William Butler Yeats. Tradução minha


Sailing to Byzantium

That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
– Those dying generations – at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.

An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.

O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.

Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.

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