20/11/2010

dolce ne la memoria #1

Romanza

Doce na memória
eleva-se a visão.
Sobre o Aventino ardia
lentamente o dia: uma glória

como se de rosas brancas
vertia o céu nas colinas
e cobria com a neve
mole todas as coisas.

Por baixo nuvens ténues
escorriam do rio:
pareciam, na luz ambígua,
riachos volúveis

que traziam nas suas manhas
navios fabulosos.
Diante, grandes e vermelhos
por entre ciprestes, os palácios

sobre as colinas imperiais
pareciam arder com fechados
fogos. Com um confuso
rumor profundo igual,

ruídos de obras humanas
ouviam-se da margem
vizinha; em Santa Sabina
guinchavam os sinos.

A paz serena,
a pia paz que amava
nos teus suaves céus,
ó Cláudio de Lorena,

estendia-se no ocaso,
chovia na alma esquecimento.
Vencido foi o meu ser
por aquele fascínio, e invadido,

e por completo daquele recente
prazer ainda cheio
(ó como, doce senhora,
era ardente a tua boca!),

ao alto ao alto, suspiro,
se lançava, esgotadas todas as guerras.
E parecia como que a terra
iluminasse o céu.


Romanza

Dolce ne la memoria
quella vista si leva.
Su l’Aventino ardeva
lento il giorno: una gloria

come di bianche rose
versava il ciel su ’l colle
e copría de la molle
neve tutte le cose.

A ’l pian nebbie leggere
si spandeano da ’l fiume:
parean, ne ’l dubbio lume,
volubili riviere

traenti in loro ambagi
favolosi navigli.
Dietro, grandi e vermigli
tra i cipressi i palagi

su ’l colle imperiale
parean arsi da chiusi
fochi. In un sol confusi
romor profondo eguale,

suoni d’opere umane
salían da la vicina
ripa; a Santa Sabina
squillavan le campane.

Una pace serena,
la pia pace che amavi
ne’ tuoi cieli soavi,
o Claudio di Lorena,

si spandea ne l’occaso,
piovea su’ cuori oblío.
Vinto l’essere mio
da quel fascino e invaso,

tutto de la recente
voluttà pieno ancora
(come, o dolce signora,
la tua bocca era ardente!),

all’alto all’alto, anélo,
tendea, spenta ogni guerra.
E parea che la terra
illuminasse il cielo.

d'Annunzio
tradução minha

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