Adorável é o traço fútil de uma fadiga, que é a fadiga da linguagem. De palavra em palavra, afadigo-me em experimentar diversamente o que é próprio da minha Imagem, impropriamente o que é próprio do meu desejo: viagem no termo da qual a minha filosofia última não pode deixar de reconhecer --e de praticar-- a tautologia. É adorável o que é adorável. Ou ainda: adoro-te porque és adorável, amo-te por te amo. O que assim encerra a linguagem de amor é exactamente o mesmo que a instituiu: o fascínio. Pois descrever o fascínio não poderá afinal ultrapassar este enunciado: "estou fascinado". Atingido o termo da linguagem, onde não é permitido repetir senão a última palavra, à maneira de um disco riscado, satisfaço-me com a sua afirmação: não será a tautologia este estranho estado onde se encontrou, confundidos todos os valores, o glorioso final da operação lógica, o obsceno do disparate e a explosão do sim nietzschiano?
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso
«Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher. Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de existir.
ResponderEliminarRespondi que Nietzsche era um maluco.»
Rubem Fonseca, "Ela"
Creio que com alguma surpresa inesperada! :)