02/05/2010

Nomes nus

Quando vejo do céu descer a Aurora
com a fronte de rosas, crina de ouro,
Amor me assalta; e então me descoloro,
e já suspiro: – Ali é tal aura ora.

Ó Títono feliz!, sabes a hora
para recuperar o teu tesouro;
mas que devo eu fazer do doce louro?
que se o vou rever, convém que moura.

O vosso separar não é tão duro;
que à noite ao menos sói voltar aquela
que ante a tua alva crina não se some;

a mim faz noite triste e o dia escuro
a que levou o meu cuidar com ela,
nem de si me deixou mais do que o nome.



Quand'io veggio dal ciel scender l'Aurora
co la fronte di ròse e co' crin d'oro,
Amor m'assale; ond'io mi discoloro,
e dico sospirando: – Ivi è l'aura ora.

O felice Titon, tu sai ben l'ora
da ricobrare il tuo caro tesoro;
ma io che debbo far del dolce alloro?
Che se 'l vo riveder,conven ch'io mora.

I vostri dipartir non son sí duri;
ch'almen di notte suol tornar colei
che non ha schifo le tue bianche chiome:

le mie notti fa triste, e i giorni oscuri,
quella che n'ha portato i pensèr miei,
né di sé mi ha lasciato altro che 'l nome.



Petrarca, Rerum Vulgarium Fragmenta, 291, Vasco Graça Moura (trad.), Bertrand (2003)



A Filípica voz onde sôa divina a de Cícero ainda?
E a paz à cidade e a ira de Catão à facção desavinda?
E onde está Régulus e onde está Rómulus e onde está Remus?
A antiga Roma subsiste no nome, nomes são tudo o que temos.


Diva Philippica vox ubi coelica nunc Ciceronis?
Pax ubi civibus atque rebellibus ira Catonis?
Nunc ubi Regulus aut ubi Romulus aut ubi Remus?
Stat Roma pristina nomine, nomina nuda tenemus.


Bernard de Cluny, De Contemptu Mundi I.949-952, tradução minha


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