Parlamento dos Pássaros
Proémio
A vida breve, a arte tão custosa,
O acto duro, a conquista tão aguda,
O alegre terror, que sempre tanto escapa,
Tudo isto é para mim Amor, que o coração
Espanta com o seu funcionamento
E custa tanto mesmo, que quando penso nele,
Nem sei sequer eu bem se bem vigilo ou sonho.
Pois mesmo se o amor eu não percebo,
Nem à regra com que dá ao povo a paga,
Eu vi contar meus livros tantas vezes
Seus milagres, e sua cruel raiva;
E como dizem que ele será senhor e dono,
Eu nada ouso e digo, por medo dos seus golpes,
Salvo “Salve Deus um tal Senhor!” E nada mais.
Ora meu hábito é buscar prazer ora saber
Nos livros que leio, como já te disse.
Mas porque conto isto? Não há muito tempo
Atrás, calhou descer-me os olhos
Sobre um certo livro, escrito a letra antiga;
E então nele, na certeza de algo aprender lá,
Passei o dia todo na pressa da leitura.
E como dos campos velhos, como sempre contam,
Nos chega o milho novo chegado cada ano;
Assim dos livros velhos, tem-no em boa fé,
Vem todo o saber novo que os homens se aprendem.
Mas agora para propor o tema disto –
Ler avante maravilhou-me tanto,
Que achei até o dia todo demasiado curto.
[...]
The Parliament of Fowles
The Proem
The lyf so short, the craft so long to lerne,
Thassay so hard, so sharp the conquering,
The dredful Ioy, that alwey slit so yerne,
Al this mene I by love, that my feling
Astonyeth with his wonderful worching
So sore y-wis, that whan I on him thinke,
Nat wot I wel wher that I wake or winke.
For al be that I knowe nat love in dede,
Ne wot how that he quyteth folk hir hyre,
Yet happeth me ful ofte in bokes rede
Of his miracles, and his cruel yre;
Ther rede I wel he wol be lord and syre,
I dar not seyn, his strokes been so sore,
But God save swich a lord! I can no more.
Of usage, what for luste what for lore,
On bokes rede I ofte, as I yow tolde.
But wherfor that I speke al this? not yore
Agon, hit happed me for to beholde
Upon a boke, was write with lettres olde;
And ther-upon, a certeyn thing to lerne,
The longe day ful faste I radde and yerne.
For out of olde feldes, as men seith,
Cometh al this newe corn fro yeer to yere;
And out of olde bokes, in good feith,
Cometh al this newe science that men lere.
But now to purpos as of this matere --
To rede forth hit gan me so delyte,
That al the day me thoughte but a lyte.
[...]
Tradução minha, 1-28
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