21/11/2013

Perguntas aos PROFESSORES e a outras pessoas interessadas e a par do actual problema das avaliações.

Tenho algumas perguntas para colocar no contexto da discussão presente em torno da avaliação dos docentes, e faço-o com toda a honestidade e sinceridade, na tentativa de entender ou de confirmar ou de refutar a minha opinião. Quando ouvi pela primeira vez que iam ser realizadas essas tais avaliações aos professores, confesso que achei a ideia excelente e necessária. Como alguém que estaria preparado talvez para atribuir à Educação a função número 1 do Estado, acreditei que seria indubitàvelmente bom podermo-nos certificar de que as pessoas encarregues de a levar a bom porto são aptas para tal tarefa. Vi numa avaliação dos professores uma dignificação da profissão, uma tomada de posição que afirma que ser professor é algo para ser levado muito a sério, e que é uma tarefa de longe demasiado importante para ser confiada a qualquer um.

Rapidamente porém apercebi-me de que a grande maioria das pessoas se opunha a estas medidas, e que dentro dessa maioria das pessoas estava contida a quase totalidade dos professores com quem falei e cujas opiniões ouvi. Ora isto não me passou ao lado, quem melhor que os praticantes duma profissão para conhecer as suas carências e necessidades. Levado pela convicção de que muito provavelmente era eu quem estava errado, pus-me em busca de refutações da minha opinião, de alguém que me convencesse preto no branco porque é que é uma coisa assim tão demoníaca a ponto de fazer professores ir a Lisboa queimar as suas qualificações pessoais.

Parto portanto do princípio de que muito provavelmente estou errado, que não estou a entender algo que é óbvio quer para a classe professoral quer para os outros defensores duma educação pública de alta qualidade. Mas ao mesmo tempo, e é isso que me leva a perguntar-Vos aqui, confesso que estou ainda por ser persuadido. Isto porque até agora fui capaz de reunir aquilo que me parecem os 2 grandes argumentos contra as avaliações. Pode ser que haja mais, em cujo caso peço que mos indiquem. Ainda assim, é destes dois que parto:

O 1) dita que há muito mais no ser professor do que aquilo que é passível de ser avaliado num exame formal (e, dito por vezes de forma um pouco despiciente, académico). Concordo plenamente, como é natural. A capacidade lectiva vai bem além do conhecimento técnico, e enquanto esse conhecimento técnico pode ser avaliado, o "resto" não pode, pelo menos não em exames estandardizados. Mas sei também que não há ninguém que discorde que esse conhecimento formal tem que estar em em primeiro lugar: um bom professor é um bom professor porque é capaz de transmitir o conhecimento que tem, enquanto que um mau professor é incapaz de o fazer. Alguém que tem falhas substanciais no seu conhecimento técnico não é um bom professor nem um mau professor, simplesmente não é (ou não devia ser) um professor, é quando muito um professor in fieri. Um mau professor pode, sejamos optimistas, aprender melhores técnicas didácticas (se preterirmos a carga podre que a palavra tem vindo a adquirir); alguém que falha um exame de conhecimentos básicos não tem a meu ver lugar numa sala de aula.

O 2) é uma elaboração do primeiro ponto, no sentido em que afirma que há professores com muitos anos de serviço assegurado, com carreira e história provadas, e que portanto (subentende-se) é quase uma injúria ou uma falta de respeito tecida contra esse meritório serviço confrontá-los com uma prova. O argumento do governo foi a afirmação (bastante do senso-comum, a meu ver), que quem domina os temas que deveria dominar não tem nada a temer: não é por desprezar o trabalho das Águas de Coimbra que insisto que se façam avaliações regulares à qualidade da água que bebo. De resto, parece-me idílico, para não dizer doloso, fazer passar a ideia de que todos os professores com extensas carreiras são bons professores quer pedagogica quer cientìficamente: e embora tenha a certeza que todos os professores que lerem isto são excelentes professores, a verdade é que muitos há que não o são. A experiência é uma mais-valia, mas não substitui certas competências fundamentais: um professor com 25 anos de carreira que fosse porventura incapaz de superar uma prova deste género mais não fez que provar que há algo de errado, e em vez de defendermos essa atitude devíamos incentivar a que essa pessoa voltasse a corroborar os seus fundamentos; o facto de que a esmagadora maioria dos professores com 25 anos de carreira seria capaz de passar os tais exames com uma perna às costas a mim só me prova que esta discussão é fútil. A educação das novas gerações é de longe demasiado importante para ficar entregue a um sentimento de que o status adquirido não precisa de ser perpetuamente merecido de novo.

Trago portanto humildementes estes dois pontos à praça-pública para que sejam refutados. Acredito com sinceridade, pois tenho confiança na sabedoria de muitas das pessoas que agora se opõem às avaliações, de que não só serão refutados como serão refutados brilhantemente e que aprenderei muito com isso. Mas até isso acontecer manter-me-ei no meu estado de incompreensão e, em última instância, de apoio a esta medida.

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