30/11/2013

We are the children of the Revolution

Yes, Machiavelli was right: we cannot doubt it now that we have the experience of three and a half centuries added to his own experience. Yes, History tells us that while small States are virtuous because of their feebleness, powerful States sustain themselves only through crime. But our conclusion will differ radically from that of Machiavelli, and the reason thereof is quite simple: we are the children of the Revolution and we have inherited from it the Religion of Humanity which we have to found upon the ruins of the Religion of Divinity. We believe in human rights, in the dignity and necessary emancipation of the human species. We believe in human liberty and human fraternity based upon human justice.

Mikhail Bakunin. The Immorality of the State.

24/11/2013

Salvatores Dei

Όχι ο Θεός θα μας σώσει·
εμείς θα σώσουμε το Θεό, πολεμώντας, δημιουργώντας, μετουσιώνοντας την ύλη σε πνέμα.

Não é Deus quem nos irá salvar;
Somos nós que salvaremos Deus lutando, criando, transformando a Matéria em Espírito.

§

Αγάπα την ύλη· απάνω της πιάνεται ο Θεός και πολεμάει. Πολέμα μαζί του.

Ama a Matéria. Deus agarra-se a ela e luta. Luta com ele.

Nikos Kazantzakis, Askitiki.
Tradução minha.

23/11/2013

«via Rhodes»

My own task here was prosaic enough. I had been accredited to the occupying forces as an Information Officer. Gideon's own business was more obscure; he made several mumbling attempts to describe it. Finally he squared his shoulders and produced a crumpled movement order which he handed me to read. I could see nothing very strange about it. It informed me that Captain A. Gideon was proceeding to Palermo via Rhodes on duty. 'You don't see anything odd about it?' he said with a chuckle, and with a touch of fatuous innocent pride. 'Neither did the provost-marshal.' He beamed at me and explained. He had long ago noticed that the legend 'will proceed from X to Y' on a movement order was sufficiently well-spaced to allow him to insert the word 'via' followed by the name of any little corner of the globe that he might wish to visit. He had spent a good part of the war travelling unwillingly 'from X to Y' — but always 'via' somewhere or other where he really wanted to go. 'It's my form of revolt' he said coyly. 'For Godsake don't tell a soul.'

Lawrence Durrell. Reflections on a Marine Venus.

22/11/2013

não és tu quem suporta a raiz, é a raiz que te suporta a ti

Ει δέ τινες τῶν κλάδων εξεκλάσθησαν, σὺ δὲ αγριέλαιος ὼν ενεκεντρίσθης εν αυτοῖς, καὶ συγκοινωνὸς τῆς ῥίζης καὶ τῆς πιότητος τῆς ελαίας εγένου, μὴ κατακαυχῶ τῶν κλάδων· ει δὲ κατακαυχᾶσαι, ου σὺ τὴν ῥίζαν βαστάζεις, αλλ᾽ ἡ ῥίζα σέ. Ερεῖς οῦν, Εξεκλάσθησαν κλάδοι, ἵνα εγὼ εγκεντρισθῶ. Καλῶς· τῇ απιστίᾳ εξεκλάσθησαν, σὺ δὲ τῇ πίστει ἕστηκας. Μὴ ὑψηλοφρόνει, αλλὰ φοβοῦ· ει γὰρ ὁ θεὸς τῶν κατὰ φύσιν κλάδων ουκ ἐφείσατο, μήπως ουδέ σου φείσεται.

(Rom 11:17-21)

21/11/2013

Perguntas aos PROFESSORES e a outras pessoas interessadas e a par do actual problema das avaliações.

Tenho algumas perguntas para colocar no contexto da discussão presente em torno da avaliação dos docentes, e faço-o com toda a honestidade e sinceridade, na tentativa de entender ou de confirmar ou de refutar a minha opinião. Quando ouvi pela primeira vez que iam ser realizadas essas tais avaliações aos professores, confesso que achei a ideia excelente e necessária. Como alguém que estaria preparado talvez para atribuir à Educação a função número 1 do Estado, acreditei que seria indubitàvelmente bom podermo-nos certificar de que as pessoas encarregues de a levar a bom porto são aptas para tal tarefa. Vi numa avaliação dos professores uma dignificação da profissão, uma tomada de posição que afirma que ser professor é algo para ser levado muito a sério, e que é uma tarefa de longe demasiado importante para ser confiada a qualquer um.

Rapidamente porém apercebi-me de que a grande maioria das pessoas se opunha a estas medidas, e que dentro dessa maioria das pessoas estava contida a quase totalidade dos professores com quem falei e cujas opiniões ouvi. Ora isto não me passou ao lado, quem melhor que os praticantes duma profissão para conhecer as suas carências e necessidades. Levado pela convicção de que muito provavelmente era eu quem estava errado, pus-me em busca de refutações da minha opinião, de alguém que me convencesse preto no branco porque é que é uma coisa assim tão demoníaca a ponto de fazer professores ir a Lisboa queimar as suas qualificações pessoais.

Parto portanto do princípio de que muito provavelmente estou errado, que não estou a entender algo que é óbvio quer para a classe professoral quer para os outros defensores duma educação pública de alta qualidade. Mas ao mesmo tempo, e é isso que me leva a perguntar-Vos aqui, confesso que estou ainda por ser persuadido. Isto porque até agora fui capaz de reunir aquilo que me parecem os 2 grandes argumentos contra as avaliações. Pode ser que haja mais, em cujo caso peço que mos indiquem. Ainda assim, é destes dois que parto:

O 1) dita que há muito mais no ser professor do que aquilo que é passível de ser avaliado num exame formal (e, dito por vezes de forma um pouco despiciente, académico). Concordo plenamente, como é natural. A capacidade lectiva vai bem além do conhecimento técnico, e enquanto esse conhecimento técnico pode ser avaliado, o "resto" não pode, pelo menos não em exames estandardizados. Mas sei também que não há ninguém que discorde que esse conhecimento formal tem que estar em em primeiro lugar: um bom professor é um bom professor porque é capaz de transmitir o conhecimento que tem, enquanto que um mau professor é incapaz de o fazer. Alguém que tem falhas substanciais no seu conhecimento técnico não é um bom professor nem um mau professor, simplesmente não é (ou não devia ser) um professor, é quando muito um professor in fieri. Um mau professor pode, sejamos optimistas, aprender melhores técnicas didácticas (se preterirmos a carga podre que a palavra tem vindo a adquirir); alguém que falha um exame de conhecimentos básicos não tem a meu ver lugar numa sala de aula.

O 2) é uma elaboração do primeiro ponto, no sentido em que afirma que há professores com muitos anos de serviço assegurado, com carreira e história provadas, e que portanto (subentende-se) é quase uma injúria ou uma falta de respeito tecida contra esse meritório serviço confrontá-los com uma prova. O argumento do governo foi a afirmação (bastante do senso-comum, a meu ver), que quem domina os temas que deveria dominar não tem nada a temer: não é por desprezar o trabalho das Águas de Coimbra que insisto que se façam avaliações regulares à qualidade da água que bebo. De resto, parece-me idílico, para não dizer doloso, fazer passar a ideia de que todos os professores com extensas carreiras são bons professores quer pedagogica quer cientìficamente: e embora tenha a certeza que todos os professores que lerem isto são excelentes professores, a verdade é que muitos há que não o são. A experiência é uma mais-valia, mas não substitui certas competências fundamentais: um professor com 25 anos de carreira que fosse porventura incapaz de superar uma prova deste género mais não fez que provar que há algo de errado, e em vez de defendermos essa atitude devíamos incentivar a que essa pessoa voltasse a corroborar os seus fundamentos; o facto de que a esmagadora maioria dos professores com 25 anos de carreira seria capaz de passar os tais exames com uma perna às costas a mim só me prova que esta discussão é fútil. A educação das novas gerações é de longe demasiado importante para ficar entregue a um sentimento de que o status adquirido não precisa de ser perpetuamente merecido de novo.

Trago portanto humildementes estes dois pontos à praça-pública para que sejam refutados. Acredito com sinceridade, pois tenho confiança na sabedoria de muitas das pessoas que agora se opõem às avaliações, de que não só serão refutados como serão refutados brilhantemente e que aprenderei muito com isso. Mas até isso acontecer manter-me-ei no meu estado de incompreensão e, em última instância, de apoio a esta medida.

19/11/2013

Wittgenstein has become a complete mystic.

I had felt in [the Tractatus] a flavour of mysticism, but was astonished when I found [Wittgenstein] has become a complete mystic. He reads people like Kierkegaard and Angelus Silesius, and he seriously contemplates becoming a monk. It all started from William James's Varieties of Religious Experience, and grew (not unnaturally) during the winter he spent alone in Norway before the war, when he was nearly mad. Then during the war a curious thing happened. He went on duty to the town of Tarnov in Galicia, and happened to come upon a bookshop, which, however, seemed to contain nothing but picture postcards. However, he went inside and found that it contained just one book: Tolstoy on the Gospels. He bought it merely because there was no other. He read it and re-read it, and thenceforth had it always with him, under fire and at all times. But on the whole he likes Tolstoy less than Dostoewski (especially Karamazov). He has penetrated deep into mystical ways of thought and feeling, but I think (though he wouldn't agree) that what he likes best in mysticism is its power to make him stop thinking.
Carta de Bertrand Russell a Ottoline Morrell, Inverno de 1919.

17/11/2013

Waving Adieu, Adieu, Adieu

That would be waving and that would be crying,
Crying and shouting and meaning farewell,
Farewell in the eyes and farewell at the centre,
Just to stand still without moving a hand.

In a world without heaven to follow, the stops
Would be endings more poignant than partings, profounder,
And that would be saying farewell, repeating farewell,
Just to be there and just to behold.

To be one’s singular self, to despise
The being that yielded so little, acquired
So little, too little to care, to turn
To the ever-jubilant weather, to sip

One’s cup and never to say a word,
Or to sleep or just to lie there still,
Just to be there, just to be beheld,
That would be bidding farewell, be bidding farewell.

One likes to practice the thing. They practice,
Enough, for heaven. Ever-jubilant,
What is there here but weather, what spirit
Have I except it comes from the sun?


Wallace Stevens

12/11/2013

Por amor ao Grego. Notas sobre a aprendizagem das línguas clássicas


O problema da sobrevivência das línguas Clássicas já há muito deixou de ser um problema dos liceus e das escolas secundárias, tendo-se transferido para o coração dos Estudos Clássicos a nível universitário. A escolha estratégica no pós-Guerra de finalmente deixar de ensinar a Literatura Greco-Latina nas línguas originais e passar a ensiná-las em tradução permitiu que os Estudos Clássicos sobrevivessem como disciplina universitária mas, apesar dessa lufada de ar fresco institucional, foram uma pírrica vitória que trouxe consigo um descentrar das atenções e dos esforços académicos para longe do ensino das línguas, que deixaram de ser uma prioridade indispensável para passarem a ser uma bem-vinda (e não raro surpreendente) vantagem. Cada vez mais por todo o mundo Ocidental até mesmo os estudos superiores em Clássicas, como Mestrados e Doutoramentos, vão deixando de exigir o conhecimento prévio das línguas antigas. No mundo anglossaxónico cresce a instituição dos cursos paralelos de Classics e de Classical Studies, onde o segundo dá de caras que tudo será estudado em tradução, podendo assim o apressado discípulo poupar o tempo que gastaria a aprender a ler Tucídides em grego e empregá-lo antes a ler comentários a Tucídides em inglês ou em alemão.

Os avisos contra esta situação já soam há vários anos se não décadas. Chegou-me recentemente às mãos um artigo de 2003 (cuja leitura recomendo vivamente) que lê este problema à luz solar da distinção hegemónica — embora de forma alguma limitada às Clássicas — entre ensino & investigação. Toma como ponto axial o grande pedagogo byzantino Manuel Chrysoloras (1355-1415), ao qual devemos o renascimento do estudo da língua Grega no Ocidente, entendendo por isso a restauração duma tradição escolar que, de mestres a alunos, sobrevive até aos nossos dias. A leitura do autor do tal artigo é que a sobrevivência académica dos Estudos Clássicos, na medida em que teve que se reinventar com base em traduções, não foi de maneira alguma capaz de preservar a tradição didáctica das línguas propriamente ditas, tradição didáctica essa que é necessária para uma continuidade realmente sólida. O conhecimento profundo do grego e do latim é cada vez mais difícil de adquirir, e para isso não contribui pouco o facto de o ensino ser entendido como a função subalterna, claramente depois da investigação académica. O artigo comenta en passant e sem muita ironia que Chrysoloras não conseguiria obter uma cátedra universitária nos dias que correm por lhe faltar curriculum e publicações, e contrasta-o com o exemplo que nele poderíamos seguir : «According to [Chrysoloras'] model, excellent teaching of Greek must be viewed as a culturally significant activity (dare I suggest equally as important) along with research scholarship.»

Como dizia e reconheço, o problema da subvalorização da parte didáctica em favor da numerologia da investigação é, infelizmente, comum a muitas disciplinas. Aquilo que no meu ver exacerba a questão no que diz respeito ao ensino do Grego, e por conseguinte do Latim também, é que é a destreza linguística é um tipo conhecimento que, uma vez não transmitido, apenas a custo se reconquista: disso é testemunho toda a história do século XV e XVI. É muito difícil ganhar a fluidez textual que deveria ter sido conquistada aquando do ensino formal, pois depois desse terminar os estudantes são por norma forçados a virar-se para traduções e não se voltam a engajar com a língua didacticamente; em suma, são confrontados com o facto de que a sua educação linguística formal 'terminou'. (E felizes aqueles que conseguem dar aulas, e que por esse motivo terão que voltar a estudá-la, embora, pelas razões acima descritas, o mais das vezes por essa altura o mal estar já feito, e o resultado é muitas vezes a perpetuação de maus hábitos.)

Cito o artigo: «As research and publication in classics advance vigorously, ironically, at the same time, the basic transmission of the essential linguistic underpinning necessary to continue the authentic classical tradition declines and falters. [...] In respect to Greek, then, it may be only a slight exaggeration to suggest we are returning to a situation very similar to that at the end of the Middle Ages when Greek was almost unknown among educated Westerners.» Não chamo por Mais Chrysoloras e por Menos Wilamowitz por desgostar do Wilamowitz, mas sim porque um Wilamowitz é um sublime cume de ar rarefeito e sem saída, enquanto que um Chrysoloras é a condição de possibilidade para a manutenção e perservação da tradição cultural e textual da qual o Wilamowitz depende. De forma que isto não é um manifesto contra a investigação, e é imperativo que não seja lido como tal. É em vez disso um reconhecimento de que a investigação, que poderíamos definir algo toscamente como a «produção de conhecimento» deve ser tornada dependente, até mesmo hierarquicamente, duma reforma que conceda os privilégios à função educativa das universidades.

Falamos muito do fim do positivismo, e inchamos o peito ao julgarmo-nos tão mais sábios do que os sábios do séc. XIX que acreditavam na cientificidade das Humanidades. Mas, como dizem os ingleses, the joke's on us, pois mantemos o propósito deles na medida em que nos impedimos a nós mesmo de o combater ao mentirmos a nós mesmos e ao fingirmos que já nos libertámos dele. A função duma Universidade — e da educação em geral — não pode ser gerar conhecimento mas sim transmiti-lo. As Universidades são péssimas a gerar aquele conhecimento realmente revolucionário de que sempre carecemos. Antes, é precisamente na sua índole de instituições conservadoras e tradicionalistas que jazem as suas virtudes. Em suma, na transmissão do conhecimento. O abandono desta percepção, e o querer ser simultaneamente dragão e estafeta, condenou o ensino universitário à deriva em que está.

Não vamos ainda demasiado tarde. Naquilo que diz respeito ao ensino das línguas clássicas, é preciso infelizmente abandonar basicamente toda a carga acumulada ao longo de século e meio e voltar aos métodos humanistas, que continuaram a dar frutos até mesmo vários séculos após o fim do Latim como língua franca. Digo isto para refutar a ideia, por vezes proposta, de que uma reforma da pedagogia seria impossível visto que o contexto histórico foi perdido. É claro que estavam ligados ambos, mas eu diria que a relação é outra: o imperativo social de ensinar Latim e Grego a altos níveis fez com que se desenvolvessem métodos altamente avançados, mas apesar de esse imperativo já não estar vigente é possível apesar disso continuar a usar a pedagogia que nesse contexto foi desenvolvida e utilizada.

Voltar portanto a investir na pedagogia, na verdadeira pedagogia linguística, não nas noções absurdas que nas Línguas Clássicas passam por reforma, e que raramente vão além de um novo e recentíssimo método de ensinar o rosa-rosæ. A revolução começa aí. Erradicar finalmente o positivismo wolfiano. Ensinar as línguas, não as linguísticas. Aprender muito da maneira como os nossos pares de outras línguas as transmitem aos seus alunos. Ler os textos, não os comentários nem as traduções. E finalmente: reconhecer que as grandes figuras do intelecto não são mais os escritores de mil páginas do que os educadores de mil alunos, e que enquanto o esforço intelectual esbanjado a fazer comentários e congressos tantas vezes inúteis não for relocalizado para o melhoramento dos métodos de ensino e o seu pragmatismo (pois as línguas, ao contrário do que nos dizem alguns profetas pós-modernos, são o elemento mais pragmático da nossa disciplina, e são sempre um meio; o carácter de sacralidade pode vir, e no meu caso vem, mas apenas a posteriori e mesmo então apenas a cada um individualmente), enquanto essa transferência não for feita continuaremos a ver o conhecimento a diminuir de ano para ano, até que atinja o zero e desistamos durante uns séculos, e tenhamos de esperar por alguém que se lembre de que o nosso amor ao grego é demasiado grande e tente começar de novo, mas aí pode já ser demasiado tarde, pois talvez Renascimento haja só um.

11/11/2013

ἢ νόσφι δίκας

κέλομαι δ', εὗδε βρέφος,
εὑδέτω δὲ πόντος, εὑδέτω δ' ἄμετρον κακόν·
μεταβουλία δέ τις φανείη,
Ζεῦ πάτερ, ἐκ σέο·
ὅττι δὲ θαρσαλέον ἔπος εὔχομαι
ἢ νόσφι δίκας,
σύγγνωθί μοι

Simonides 13D 21-27. Tradução minha.

peço-te, dorme, meu filho,
dorme, mar, dorme, mal sem fim.
e tu volta atrás no que decidiste,
Zeus pai.
eu sei que peço algo excessivo,
injusto até,
mas perdoa-me.

08/11/2013

Vocação do Poeta — Hölderlin

(Tradução in fieri.)


As margens do Ganges ouviram o o Deus da Alegria
     Triunfante quando, vindo do Indo, o jovem
          Conquistador Baccho começou com o santo
               Vinho a acordar os Povos do seu sono.

E tu, Anjo do Dia!, não acordas aqueles
     Que ainda dormem? Dá-lhes a Lei, dá-
          -Nos Vida. Vence, Mestre, só tu
               Tens o Direito de Conquistar como Baccho.

A Humanidade nada tem que cuidar ou que tratar
     Nem em casa nem sob o céu aberto,
          Desde que o Homem se nutra e alimente
               Com mais nobreza do que a besta. Porque há outra coisa

Que ao cuidado e serviço dos que poetas foi confiada.
     É nossa tarefa perante o mais Alto,
          Que cada vez mais perto esempre de novo,
               Os corações amigos O possam ouvir.

E ainda assim, vós Celestes, todos vós,
     Vós as fontes, as costas, os montes e bosques,
          Foi tão maravilhoso quando Tu
               Me agarraste os cabelos, e inesquecivelmente

O génio criador de que eu já tinha desistido
      Veio até nós em toda a sua divindade. Os nossos sentidos
          Ficaram mudos e foi como se
               Um relâmpago nos despedaçasse os ossos,

Vós sois Façanhas na terra inteira à solta —
     Dias de Destino — Cortes. Quando o Deus
          De pensamento sereno parte para onde a cólera ébria
               Dos corcéis gigantescos o levam,

Temos que ficar calados? E quando a Melodia
     Calma do ano eterno soa dentro de nós,
          Será que deve ser como se uma criança
               Tivesse na brincadeira ousado tocar

A pura e santificada lira do Mestre?
         Foi para isto, poeta, que ouviste
               Os profetas do Oriente, o Canto Grego,
                    E agora o Trovão? Foi para poderes

Maltratar o Espírito, para te lançares sobre a Presença
     Do Bem e troçares dela, para desprezares
          O ingénuo e sem misericórdia lhe dares umas moedas
               Para ele se comportar como um animal numa jaula?

Até que com o teu espicaçar cruel ele
     Se lembre da sua origem e chame o próprio
          Mestre, que vem e te deixa desfalecido
               Com os seus ferventes dardos de morte.

Há tanto tempo que o Divino só serve para servir,
     Que todas as Forças do Céu se esbanjam, que se abusa
          Da Bondade por desporto e sem gratidão, uma
               Geração calculista que presume,

Quando o Sublime lhe cultiva os campos,
     Que conhece a luz do Dia e o Trovejante quando espreita
          Pelo telescópio e numera e
               Dá nomes às Estrelas do Céu.

Mas o Pai pega na Noite sagrada
     E cobre-nos os olhos para que permaneçamos.
          Ele não ama o Desmesurado. A Força
               É extensa mas não empurra o Céu.

Também não é bom ser demasiado sábio. A Gratidão
     Conhece-o. Mas guardá-lo sozinho não é fácil,
          E por isso um poeta gosta de se juntar a outros
               Que ajudem a entender.

Mas, como tem de ser, o Homem permanece destemido
     E solitário diante Deus, a sua candura protege-o,
          Não precisa de armas nem de
               Estratagemas, até que por fim ausência de Deus o ajuda.

Friedrich Hölderlin. Vocação do Poeta [Dichterberuf]. Tradução minha.


Des Ganges Ufer hörten des Freudengotts
     Triumph, als allerobernd vom Indus her
          Der junge Bacchus kam mit heilgem
               Weine vom Schlafe die Völker weckend.

Und du, des Tages Engel! erweckst sie nicht,
     Die jetzt noch schlafen? gib die Gesetze, gib
          Uns Leben, siege, Meister, du nur
               Hast der Eroberung Recht, wie Bacchus.

Nicht, was wohl sonst des Menschen Geschick und Sorg'
     Im Haus und unter offenem Himmel ist,
          Wenn edler, denn das Wild, der Mann sich
               Wehret und nährt! denn es gilt ein anders,

Zu Sorg' und Dienst den Dichtenden anvertraut!
     Der Höchste, der ists, dem wir geeignet sind
          Daß näher, immerneu besungen
               Ihn die befreundete Brust vernehme.

Und dennoch, o ihr Himmlischen all und all
     Ihr Quellen und ihr Ufer und Hain' und Höhn
          Wo wunderbar zuerst, als du die
               Locken ergriffen, und unvergeßlich

Der unverhoffte Genius über uns
     Der schöpferische, göttliche kam, daß stumm
          Der Sinn uns ward und, wie vom
               Strahle gerührt das Gebein erbebte,

Ihr ruhelosen Taten in weiter Welt!
     Ihr Schicksalstag', ihr reißenden, wenn der Gott
          Stillsinnend lenkt, wohin zorntrunken
               Ihn die gigantischen Rosse bringen,

Euch sollten wir verschweigen, und wenn in uns
     Vom stetigstillen Jahre der Wohllaut tönt
          So sollt' es klingen, gleich als hätte
               Mutig und müßig ein Kind des Meisters

Geweihte, reine Saiten im Scherz gerührt?
     Und darum hast du, Dichter! des Orients
          Propheten und den Griechensang und
               Neulich die Donner gehört, damit du

Den Geist zu Diensten brauchst und die Gegenwart
     Des Guten übereilest, in Spott, und den Albernen
          Verleugnest, herzlos, und zum Spiele
               Feil, wie gefangenes Wild, ihn treibest.

Bis aufgereizt vom Stachel im Grimme der
     Des Ursprungs sich erinnert und ruft, daß selbst
          Der Meister kommt, dann unter heißen
               Todesgeschossen entseelt dich lässet.

Zu lang ist alles Göttliche dienstbar schon
     Und alle Himmelskräfte verscherzt, verbraucht
          Die Gütigen, zur Lust, danklos, ein
               Schlaues Geschlecht und zu kennen wähnt es

Wenn ihnen der Erhabne den Acker baut
     Das Tagslicht und den Donnerer, und es späht
          Das Sehrohr wohl sie all und zählt und
               Nennet mit Namen des Himmels Sterne

Der Vater aber decket mit heilger Nacht,
     Damit wir bleiben mögen, die Augen zu.
          Nicht liebt er Wildes! doch es zwinget
               Nimmer die weite Gewalt den Himmel.

Noch ists auch gut, zu weise zu sein. Ihn kennt
     Der Dank. Doch nicht behält er es leicht allein,
          Und gern gesellt, damit verstehn sie
               Helfen, zu anderen sich ein Dichter.

Furchtlos bleibt aber, so er es muß, der Mann
     Einsam vor Gott, es schützet die Einfalt ihn,
          Und keiner Waffen brauchts und keiner
               Listen, so lange, bis Gottes Fehl' hilft.

07/11/2013

A Virgem Maria & a electricidade

Pertenço a uma geração – supondo que essa geração seja mais pessoas que eu – que perdeu por igual a fé nos deuses das religiões antigas e a fé nos deuses das irreligiões modernas. Não posso aceitar Jeová, nem a humanidade. Cristo e o progresso são para mim mitos do mesmo mundo. Não creio na Virgem Maria nem na electricidade.

Barão de Teive. A Educação do Estóico.

04/11/2013

how well you held account

Granted our choice say it is Metaphysic.
Shales the tide backward where it paused self-gathered;
Mutterings endless the salt wound of Being
                   Sutured by dolphins.

Hold in vision windbreaks and winter jasmine;
As for these eyes only by your responding
Whether some Welsh chine is to take its colour
                   Into rememberance.

I cannot shew you any further legend
Than of our marvellously entertaining
Chastity; our lives' instrumental voyage
                   Winning remission.

When the hands touch trust me to apprehend this.
So young so untried it had best be instinct.
I should call impulse comprehension's talon.
                   Well may it strike us

In effect here, now, far-off, predetermined;
Freely like mere providence. It is nor out
Grief devalues clamant eternals. I am
                   Sick of this dying

Time that bends so beautifully around things;
Justice named sum total of ev'ry virtue.
Mia cara, how well you held account of
                   Seabird and shadow.

Geoffrey Hill. Odi Barbare. The Senecio Press (2012).