«Despojos, que fostes doces enquanto o destino e o deus permitiu,
Recebei agora a minha alma e libertai-me das minhas dores.
Vivi sem jamais deixar de percorrer o que a Fortuna me indicou,
E desce agora às profundezas da terra a grande imagem do que fui.
Gloriosa é a cidade que fundei, cujas muralhas vi surgir,
E ao vingar o meu marido castiguei o inimigo meu irmão.
Felicidade, desmesurada felicidade, se às nossas costas
Jamais as proas Dardânias tivessem aportado!»
Assim falou, e apertou a cara contra o leito. «Sem vingança virá a nossa morte,
Mas que venha então. Descer até às sombras é isto, nada mais.
Que o cruel Dardânio se encharque do meu fogo ao vê-lo
Lá do alto mar, e leve consigo os meus portentos de morte.»
Vergilii Æneis. IV.651-663. Tradução minha.
'Dulces exuviæ, dum fata deusque sinebat,
accipite hanc animam meque his exsolvite curis.
Vixi et quem dederat cursum Fortuna peregi,
et nunc magna mei sub terras ibit imago.
Urbem præclaram statui, mea mœnia vidi,
ulta virum pœnas inimico a fratre recepi,
felix, heu nimium felix, si litora tantum
numquam Dardaniæ tetigissent nostra carinæ.'
Dixit, et os impressa toro 'Moriemur inultæ,
sed moriamur' ait. 'Sic, sic juvat ire sub umbras.
Hauriat hunc oculis ignem crudelis ab alto
Dardanus, et nostræ secum ferat omina mortis.'
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