A questão do destino da espécie humana parece-me ser a de saber se e em que medida a evolução da civilização conseguirá controlar os distúrbios que os instintos humanos para a agressão e para a autodestruição causam na vida em comunidade. A este respeito, os tempos presentes talvez se revistam de particular interesse. Os homens levaram agora o domínio sobre as forças da natureza a um extremo tal que com a sua ajuda lhes será fácil eliminarem-se mútua e completamente até à última vida. E eles sabem que assim é, o que em boa parte explica o seu presente desassossego, a sua infelicidade, o seu medo constante. E é agora de esperar que o outro dos dois "poderes divinos", o eterno Eros, se esforce por impor a sua presença na luta com o seu adversário não menos imortal. Mas quem poderá prever o desfecho e as consequências deste combate?
Freud, O Mal-Estar na Civilização, Isabel Castro Silva (trad), Relógio d'Água, 2008.
Eros invencível no combate,
Eros que as riquezas destróis,
que estás de vigília às faces tenras
da donzela,
vagueias sobre o mar e os campos!
Não te evitou nenhum dos deuses
nem dos humanos de curta vida:
quem te possui
enlouquece.
Tu desvias dos justos o ânimo,
fá-los injustos para o seu mal,
tu, que excitaste esta contenda
nos parentes;
vence, porém, da formosa noiva
a luz brilhante do seu olhar,
das grandes leis par no poder; ri-se,
invencível,
Afrodite.
Sófocles, Antígona, Maria Helena da Rocha Pereira (trad), Gulbenkian, 2007.