29/03/2019

Abu ‘Abdullah Moḥammad al-Thānī ‘Ashar



أبو عبد الله محمد الثاني عشر

Vulgo Boabdil (corruptela de ‘Abu Abdullah), último rei de Granada e último monarca muçulmano da Península. Encarna simbolicamente o fim da história ancestral do Islão na nossa península. Devido à lenda de que, ao partir para o exílio para Fez, olhou uma última vez para a cidade de Granada e suspirou , tornou-se numa figura central para a mitologia da saudade. O Fernando Pessoa dedicou-lhe vários poemas, entre os quais esta quadra:
Outrora fui talvez, não Boabdil,
Mas o seu mero último olhar, da estrada
Dado ao deixado vulto de Granada,
Recorte frio sob o unido anil . . .
Não tenho ilusões nem romantismos quanto às fortunas ou infortúnios duns pobres monarcas e das suas autocracias que vêm e vão. Mas sei de que lado não estou: a 31 de Março de 1492, menos de 3 meses após a queda de Granada a 2 de Janeiro do mesmo ano, gloriosos da conquista final da Península, os Reis Católicos Isabel e Fernando proclamam o Edito de Alhambra que ordena a expulsão das populações judaicas dos seus domínios.

A esta expulsão Gershom Scholem chama «uma catástrofe de inconcebíveis dimensões, que arrancou e expôs um dos ramos principais do povo Judaico, e que causou mudanças radicais em todas as esferas da vida e da percepção judaicas» (Major Trends in Jewish Mysticism p.244). A maior parte fugiu para Império Otomano, Norte de África, ou para a Eretz Yisrael. Alguns fugiram para Portugal.

Chegados cá foram chantageados pelo nosso rei Manuel I, o Vendido, que comerciou a vida dos refugiados judeus em troca do seu anseio por umas castelhanas bodas. A monarquia em Portugal, ontem como hoje. Quatro anos após chegarem de Castela foram mais uma vez expulsos.

O Catolicismo militante que no século XI e XII chegou à península vindo de Roma foi um projecto imperial do papado, útil para esmagar as tradições religiosas locais -- todas elas, não só o Judaísmo e o Islão mas também o ancestral Catolicismo visigótico e moçárabe, e substituí-las pelo catolicismo romano e cruzado que seria a ruína social, económica, e moral da península, que atiçaria fogo ao globo inteiro e lançaria grilhões sobre milhões e milhões.

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