não é esta a noite do mundo. se for, não sei
pra que serve este coro, face ao silêncio
dos titans e à iniquidade demente
aprisionada no teu peito - porque é hei-de
preparar as danças, aprender as falas,
praticar a fé, e ensair justiça
até que na estreia do mundo não esteja omissa
nenhuma das virtudes? «entregá-las
à humanidade.» ingenuidade, bela
e travessa, a trapaceira liberdade
de que só um deus como Sade
se poderia lembrar. a tua promessa é grande. ainda que sê-la
seja uma responsabilidade demasiado
pesada. preferimos tarefas mais simples:
a arte, a poesia, o desenfrear dos sentidos, a inteligência.
lançando-me contra o mar encrespado
gritei o bem que não sou. mas o bem
aprende-se, e se carece
de professores, bem, ao menos mede-se
segundo os teus beijos, e tem
na tua glória a escala.
virá o dia em que no céu estrelado
não brilharão mais deuses e que no estrado
teatral do coração a lei que o teu sopro exala
não se fará ouvir. virá o dia
em que a justiça não poderá jorrar
e nem sequer gotejar, e não trará enfado
aos propósitos dos iníquos. seja. até então, desafia
a nossa vontade para os teus mandamentos.
invade o nosso desejo. apodera-te dos nossos gestos.
mesmo se nem sempre cumprirmos, faz de nós a festa
rouca que dite e vote ao teu silêncio.
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