21/10/2012

de Officiis

O de Officiis, livro testamental de Cícero ao seu filho, não é o manual de bons-costumes tingido a moralina que muitas vezes se imagina que é. Dele escorre o esforço desesperado dum homem a quem todos atacam de, numa última hora, numa última palavra, exortar pausadamente à virtude e à liberdade. É uma tragédia, muito mais que as outras romanas que lemos, ao nível espiritual da Pharsalia, em momentos até mesmo ao nível sombrio daquela Aeneida incerta. Res in extremum est adducta discrimen; de libertate decernitur, diz ele num outro algures: e é isso. Cícero é a figura da coragem humana que se oferece às outras pessoas; melhor que o estóicismo dum Séneca, Séneca esse cuja doutrina, como se comprovará no movimento monástico, tantas vezes transforma o si minus no egoísmo do claustro. No momento em que tudo arde, o que farás tu? É essa a pergunta do de Officiis. Onde buscarás tu refúgio? No interior do teu ser, in portum philosophiae? Ou, como séculos mais tarde dirá a Arendt, junto não da Humanidade mas sim dos homens? Cícero assumiu a escolha: bradou as Philíppicas e depois morreu.

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