27/12/2018

Consolação a Vergílio [Horácio, Odes I.24]

Conter ou moderar a saudade de alguém
Tão querido. Larga o teu lúgubre
Canto, Melpómene, com a voz líquida
     E a lira que o Pai te deu.

Um sopor eterno arrasta Quintílio
Consigo. O Decoro, e a Lealdade
Pura, irmã da Justiça, e a Verdade austera,
     Procuram-lhe igual e não acham.

Caiu chorado por tantos homens bons.
Ninguém o chorou mais que tu, Vergílio,
Foste pio em vão. De nada serve agora
     Cobrar aos deuses saldo algum.

Tocaste a tua lira mais doce que o Orfeu
Da Trácia. E depois, de que é que te serviu?
Regressará o sangue ao rosto pálido
     Depois de Mercúrio lhe tocar

Com seu bastão absurdo, e cumprir o destino
Para o encurralar na multidão das trevas?
Sofre. Nada há que alivie o que
     Não nos é dado corrigir.


Horácio, Odes I.24. Tradução minha.


Quis desiderio sit pudor aut modus
tam cari capitis? Præcipe lugubris
cantus, Melpomene, cui liquidam pater
     vocem cum cithara dedit.

Ergo Quintilium perpetuus sopor               5
urget? Cui Pudor et Justitiæ soror,
incorrupta Fides, nudaque Veritas
     quando ullum inveniet parem?

Multis ille bonis flebilis occidit,
nulli flebilior quam tibi, Vergili.               10
Tu frustra pius, heu, non ita creditum
     poscis Quintilium deos.

Quid si Threicio blandius Orpheo
auditam moderere arboribus fidem?
Num vanæ redeat sanguis imagini,               15
     quam virga semel horrida,

non lenis precibus fata recludere,
nigro compulerit Mercurius gregi?
durum: sed levius fit patientia
     quicquid corrigere est nefas.

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