04/05/2015

Destino: o mito grego.

Neste momento releio o Hipérion de Hölderlin, o esquizofrénico. Que fervor na condução da luz pessoal! Destino: o mito grego. A correria do preceptor por todos os lados da incandescência! E a passagem por casa do banqueiro Gontard desenha o trágico tumulto luminoso que é o trânsito do poeta pelos círculos da treva. Da casa, do banco, da noite — dos arraiais pequeninamente contentes, com suas assustadas iluminações de castiçal — emerge a cabeça fulgurante e mortal de Diotima. Entretanto, Hipérion entrega-se obsessivamente aos trabalhos de recuperação da unidade, ele (Hölderlin), que «a miséria espiritual do mundo ocidental moderno» empurrou para trinta e sete anos de Grécia completa interior, também no caso dita esquizofrenia. Morta Diotima, quem o acompanha na viagem a tais Grécias excessivamente centrais? Digo que o mundo não estaria louco se houvesse afinação nervosa para decifrar esses fundos arquipélagos da escrita hölderliniana.
Herberto Helder. Photomaton & Vox. Porto Editora (2015).

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