Κ
mete-me medo pensar que um dia
ninguém se lembrará que houve deuses.
não digo acreditar
já ninguém acredita em Hermes,
o Corredor,
mas lembrar ao menos que houve um dia
formas brilhantes nas trevas
cavalos no céu do verão
e que os homens e as mulheres desafiavam
a Lua e o Sol e por vezes ganhavam.
não é pena que sinto, é aquela
tristeza que dizem que os deuses sentiam,
quando existiam,
a tristeza com sabor a maresia
que nascia de não saberem o que fazer com tanta
felicidade. os deuses
viam as gerações dos homens passar
como as folhas das árvores
e foram-se esquecendo de como é bom amar-nos.
nós vemos as gerações dos deuses passar
como as folhas dos livros
e vamos desaprendendo também os gestos das libações,
da prece, e da luz. um dia alguém chegará a uma coluna dum templo
e sentar-se-á nela, e comerá a merenda,
e isso será bonito
mas será também triste.
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