perdoar-te o quereres começar
aquilo que já existia
a água que bate na praia
as costas adonde se chega;
perdoar-te ainda
do destino a gaita de foles
dos tiranos heróicos as palavras inteiras
o saco de ar quente que foste:
rebentaste nas silvas mordazes,
o meu sangue bateste-o nas eiras.
salva-se saberes que é nos mortos
que se dobra ao meio a viagem
como a casca dum ovo partido
que se bate e mistura a semente,
o centro plos raios se espalha
o passado futuro se torna, e o futuro
não é mais necessário
(e afinal profecias é isto).
sabias o que era o que fora e aquilo que um dia seremos.
tu emudecias os mortos.
por isso perdoamos talvez,
se houver talvez no perdão,
até porque dizem
que por vezes ficavas
triste sem no-lo dizeres.
mas nunca escreveste elegias
e isso eu não to desculpo.
a fúria gerou-te
gerou-te a vontade
e a santa birra de Jove.
e nunca escreveste elegias.